08 junho 2016

Reforço, punição ou consequência?


Quase sempre na companhia do sofá penso nos feedbacks, nos reforços, nas consequências e nas punições que dei a cada atleta. Naquele momento, analiso qual delas a mais correta.

Embora não seja a mais usada, segundo os meus princípios, a punição representa a estratégia mais fácil de por em prática e mais comum. No entanto é necessário respeitar algumas regras.
          Exemplo: o atleta tem um comportamento inapropriado, vai correr à volta do campo.

Com as punições, pretendemos diminuir a probabilidade de um comportamento indesejado voltar a acontecer, seja um comportamento observável (overt behaviour) ou um comportamento inobservável (covert behaviour) em função das contingências operantes prévias.
Quando usamos esta estratégia é necessário estar ciente que pode ter um efeito contrário ao pretendido, principalmente se o atleta assumir essa punição como injusta e infundamentada. Desde logo, é necessário muito cuidado com o que pretendemos com a punição.

Ao contrário do que o senso comum nos diz, a punição é um conceito científico (Thorndike) e não implica juízos de valores, tal como o reforço, embora frequentemente seja utilizado de forma negativa.

Neste sentido ainda podemos usar a extinção operante, ou seja, sempre que o atleta apresentar um comportamento indesejado aplicar sempre a mesma consequência punitiva de forma a reduzir a probabilidade do comportamento, o que pode levar algum tempo até que o atleta perceba e corrija o comportamento pois não há feedback nem comunicação.


Regras da Punição:
     1. Escolher entre o “menu” de punições, a estratégia que mais se adequada ao contexto, garantindo mais eficácia na intervenção.
     2. As punições negativas (remoções) são frequentemente mal usadas. Punir um filho na actividade física quando o contexto do castigo foi o meio escolar. As punições nunca devem sair do contexto onde acontecem, pois será justo argumentar que por um mau comportamento do desporto seja punido com a ausência à escola.
     3. As punições devem ter um tempo razoável, garantindo que os comportamentos adequados não sejam influenciados pela punição.
     4. A punição deve acontecer logo após a ocorrência do comportamento a punir.
     5. A punição uma vez decidida, não é negociável. Por está razão deve ser um ato ponderado e não reactivo.
     6. Se pretendemos avisar que iremos aplicar uma punição é necessário realizar um aviso descritivo e explícito. “Se continuares sem cumprir com o que te é solicitado (descrever o pretendido) e a brincar, o teu treino de hoje vai terminar por aqui.” Não deve ser ambíguo do tipo “ Se continuas assim, nem sabes o que te vai acontecer”.

Por sua vez, usar o reforço + (positivo) pode gerar mais satisfação e motivação, sendo extremamente útil nos feedbacks que damos aos atletas, principalmente quando apresentam comportamento desejado.
A mesma estratégia pode ser usada também como forma de reduzir a probabilidade de acontecimento de comportamentos indesejados, através do reforço – (negativo).
          Exemplo: Se realizares o passe para a lateral como anteriormente realizaste verás que tens mais sucesso. Reforço – (negativo)


Regras do reforço:
     1. Reforçar em intervalos de tempo diferentes, evitar rotinas.
     2. Definir a quantidade de comportamento correto que deve apresentar até receber um reforço.
     3. Definir a quantidade da recompensa que se recebe.
     4. Ser conciso no que pretende reforçar, evitar só “ muito bem…??” pois o atleta pode ter realizado 3 execuções incorrectas e apenas 1 correcta e desta forma estamos a reforçar comportamentos indesejados também.

Após tudo isto e mesmo tendo em consideração todos estes elementos, qual será a melhor estratégia a usar???

Na minha opinião, irá depender de várias situações.
     1. Qual a estratégia que o treinador se sente mais confortável ou apresenta mais domínio.
     2. Contexto onde está inserido (Idade dos atletas, traços de personalidade do atleta, zona geográfica e objetivos).
     3. Estilo de liderança.
     4. Mais importante, capacidade em ajustar à realidade evitando rotina em qualquer estratégia, garantindo maior probabilidade de sucesso.


Não existem estratégias certas ou erradas. O contexto é que irá definir se foi uma boa ou menos boa decisão usar determinada estratégia em função do resultado obtido.


Rodrigo Silva

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