30 janeiro 2017

O empréstimo de jogadores em Portugal


Todas as épocas assistimos em Portugal ao mesmo fenómeno, os Presidentes, Treinadores e a Imprensa a dar relevância a casos de cedência temporária de jogadores, quer seja no caso de não poderem competir contra o clube que os cedeu obrigando os treinadores a mudar a estrutura da sua equipa, quer seja pela sua chamada antecipada à casa mãe, seja para integrar a equipa ou para nova cedência.


No entanto, a meu ver, estas são questões que já se encontram estipuladas, quer nas regras da Liga quer nos contratos de cedência temporária do jogador, não encontrando aí qualquer questão, uma vez que tanto quem cede os jogadores como quem os recebe por cedência já estão informados previamente das regras em vigor.

A questão dos jogadores emprestados deveria no entanto levantar outro tipo de questões que a meu ver não estão a ser levantadas. Qual a necessidade de haver jogadores de 27, 28 e às vezes 30 anos emprestados? Será de perspectiva de evolução futura? Será benéfico para as Ligas, clubes, treinadores e jogadores os empréstimos? O que ganha a Liga em ter jogos nos quais as equipas participantes não podem apresentar os melhores jogadores? Competitividade? O que ganham os clubes em não poder apresentar a sua equipa base em determinados jogos? Rotinas? Como fica o treinador que vem apresentando uma equipa tipo e fica privado de utilizar jogadores num determinado jogo? Com sensação de justiça desportiva? O que ganha o jogador que até conseguiu entrar na equipa e na semana seguinte ter de ficar obrigatoriamente na bancada? Ritmo de jogo? Qual a sensação de um Seleccionador Nacional que vê um jogador sair da equipa titular por uma questão destas e esse jogador estar sujeito a não voltar a entrar na equipa? Satisfeito?

Estas são as questões que a mim me ecoam na cabeça, e também deveriam de ser a quem toma decisões no futebol, sendo fundamental haver um debate dos benefícios e malefícios da actual forma de gestão destes casos e, acima de tudo, propostas de mudança às actuais leis de modo a proteger o futebol e o jogador.

Deste modo acho que deveria de haver por parte da Liga, em concertação com a Federação Portuguesa de Futebol, uma discussão de medidas que poderiam beneficiar os campeonatos profissionais e semi-profissionais, acima de tudo na sua competitividade e credibilidade, e principalmente os jogadores.

No que concerne aos jogadores, deveria ser limitado aos clubes apenas poderem fazer empréstimos de jogadores até aos sub23, i.e., jogadores com perspectiva de evoluírem num patamar mais competitivo com o objectivo de regressarem ao clube de origem. Tudo o que ultrapassa essa idade, parece-me que são apenas soluções de recurso para jogadores que não são opção e muito dificilmente o serão no futuro para o treinador e para o clube.

Deste modo, para esses jogadores, a Liga deveria definir um limite mínimo de jogos (por exemplo, não ter participado em pelo menos 20% dos jogos do clube nessa época desportiva) no qual o jogador, caso entendesse ser benéfico, poderia accionar uma cláusula de rescisão sem despesas para o jogador e para o clube. Isto permitiria que o jogador pudesse procurar outro clube para competir com mais regularidade, permitindo ainda que o próprio campeonato se tornasse mais competitivo, uma vez que equipas menos cotadas poderiam resgatar jogadores para tornar o plantel mais competitivo.

O facto de os clubes grandes terem vários jogadores com qualidade “encostados”, faz com que a qualidade e competitividade do campeonato se ressinta, pois estes não estão acessíveis aos outros clubes portugueses a não ser por empréstimo, com todas as condicionantes que daí resultam, tais como a proibição da utilização destes jogadores nos jogos mais importantes.

Isto beneficiaria os jogadores, pois ao poderem sair para outros clubes poderiam competir sem restrições, podendo com isto não ter interrupções no seu estímulo competitivo, ajudando nos objectivos do clube e podendo ainda dar mais nas vistas permitindo futuras vendas benéficas tanto para o jogador como para o clube que receberia a verba da transferência. Beneficiaria ainda os treinadores que não ficariam privados de jogadores importantes para a equipa em jogos do campeonato. Beneficiaria os clubes, tanto na obtenção dos objectivos para a época como na já referida possível transferência de jogadores. E acima de tudo beneficiaria a própria Liga e o Campeonato pois permitiria uma maior competitividade entre equipas pois jogadores de qualidade reconhecida estariam mais divididos pelas diferentes equipas do campeonato, permitiria que os jogadores não tivessem restrições de jogo, e com as possíveis transferências de jogadores permitiria que os clubes médios/pequenos tivessem maiores orçamentos que permitiria melhores salários para os jogadores e treinadores, melhoria nas condições de treino e uma maior competitividade resultante de maiores orçamentos.

Obviamente seria uma solução que os clubes grandes não veriam com bons olhos e teria de haver condicionantes nas rescisões para não haver uma emigração de jogadores que também não seria benéfica para a competitividade dos campeonatos. No entanto iria fazer com que as contratações tivessem de ser mais ponderadas, pois um clube arriscava-se a contratar um jogador que nessa época não era opção para o treinador que depois accionaria a cláusula de saída sem custos. Isto faria com que as contratações de jogadores fossem numa perspectiva de adicionar qualidade à equipa e não só por roubar jogadores aos outros clubes com o objectivo dos enfraquecer.

A tal cláusula de rescisão para os jogadores também teria de ter condicionantes, desde logo na percentagem de jogos realizados, no qual os tempos de paragem não deveriam contar, pois um jogador lesionado deixa de ser opção mesmo que o treinador conte com ele, e esta cláusula apenas poderia ser accionada no caso de o jogador continuar a competir em Portugal, impedindo assim que haja uma deportação do talento a jogar em Portugal.

Serginho

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